Sangue
Sangrava. Sangrava muito. O colchão inteiro estava cheio de sangue. Minha avó correu e disse “Já para o banheiro!”. Ela me fechou lá dentro. Enquanto minha avó acudia minha mãe, eu, ali com os meus sete anos, sem entender nada, fiquei ajoelhada, assustada no chão do banheiro, meio rezando, meio resmungando. Por muitos anos, desconheci a origem daquele sangue. Só fui lembrar e entender o que tinha ocorrido com a minha mãe, quando me dei conta que nós, mulheres, somos obrigadas pelas pressões sociais e por lei a manter uma gestação indesejada. Nunca consegui conversar diretamente com a minha mãe sobre o que vi. Às vezes, acho que ela pensa que eu me esqueci. Talvez por vergonha não fale sobre o que ocorreu naquele dia. Mas, me contou de outro episódio. Disse que uma vez precisou sair, recém-operada, dessas clinicas clandestinas para pedir dinheiro para minha avó, já que havia sido abandonada no local por seu suposto parceiro. É claro que minha avó reprovava. Mas sempre ajudava. ...