"O mau exemplo de Cameron Post" e as boas intenções mal informadas


And I pray, oh my god do I pray

I pray every single day
For a revolution

Trecho da música "What's up" de Linda Perry

Em uma das melhores cenas do filme "O mau exemplo de Cameron Post" (Direção: Desiree Akhavan), Cameron, a jovem que foi enviada para um reformatório cristão, que tenta "reverter" a sexualidade de pessoas homossexuais, deflagra toda sua sua vontade de liberdade ao cantar o trecho da música acima (que aliás, já tinha escutado várias vezes, e nunca havia notado sua oposição a "brotherhood of man" rs). Só por essa passagem, o filme já valeu a pena para mim. 

Mas o filme tem um mérito em si mesmo pelo tema tão espinhoso que tenta tratar: a já condenada, mas sempre ressuscitada ideia de "cura gay". 

É incrível como o filme, aos poucos, vai mostrando que as pessoas que cuidam do "reformatório", apesar de terem boas intenções, baseiam suas práticas "de cura" em fundamentos sem qualquer comprovação científica ou em uma única experiência "exitosa" do líder religioso que coordena as práticas. Apesar das boas intenções da coordenadora do espaço e do seu irmão, único exemplo da cura gay, os procedimentos usados caminham para uma autoflagelação e negação de si mesmo que evidentemente só traz mais dor e sofrimento as/os adolescentes. 

A diretora mostra esse caminho desgovernado de uma forma lenta, sem julgar essas pessoas, inclusive a tia de Cameron, que querem fazer o "bem" para os/as jovens. E essa construção vagarosa é muito perspicaz para perceber que o que temos como certeza como o "bom" e o "correto" ao outro, muitas vezes, pode lhe causar mais tristeza e problemas. É um filme, antes de tudo, que prestigia a liberdade do outro e dos corpos!

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