Postagens

A investida na política

  Não, não. Tudo bem. Ela era melhor do que eu. Doutorado. Fala bem. É o que se espera. É uma mulher com boa postura. Fala firme. Quem quer uma mulher que titubeia e mostra suas inseguranças para um cargo de poder? Lógico que queremos dar espaço para todas. Mas para desejar um espaço de poder, deve vir pronta. Verdade, a moça tem uma história bacana. Mas isso já foi, passou. Esforçada? Já estava na área? Domina um pouco alguns setores? E disse há 5 meses que queria esse cargo? Tadinha. Não é assim. Tem que fazer P-O-L-Í-T-I-C-A. O que ela faz é política? Sei não. Nunca vi ela aqui tomando um café comigo. Diferente? Política só tem um jeito, no tête-à-tête com quem manda. Sim, sim. Eu vou me engradecer com isso. Aprendizado. Nem todas as pessoas têm todas as competências para ocupar um lugar. Vou me encontrar em outro lugar. É, nem todas as pessoas têm as competências necessárias. E quando e como se define as competências? É cultural, histórico. Existem padrões de competências...

"Entre mulheres": debates sobre igualdade.

Imagem
  Cuidado, spoilers!! Aproveitando o ensejo deste 8 de março de 2023, incentivo todas as pessoas a assistirem ao filme “Entre Mulheres”, da diretora Sarah Polley. Vale menção também ao nome em inglês “Women talking”, que pode ser traduzido como mulheres conversando, mas, logo no início do filme, já dá para entender que o significado do título pode ser interpretado mais como mulheres debatendo ou mulheres deliberando. A intenção dessa “conversa entre mulheres” é passar a imagem de um fórum de discussão formado apenas por mulheres, sem perder de vista a potência dessa conversa franca e íntima entre elas. No filme, mulheres de uma comunidade religiosa isolada são atacadas sexualmente por gerações enquanto dormem, no entanto, por força das lideranças religiosas e políticas masculinas desta comunidade, acreditam que são pessoas desconhecidas ou seres sobrenaturais que provocam aquelas violências. A trama se inicia quando uma das mulheres (Salomé) descobre que quem as violenta sistematic...

Sobre o livro Maresi

Imagem
  Pense em crescer em uma ilha administrada por mulheres que são solidárias umas com as outras e criam um ambiente livre e protegido para você mulher crescer sem medo. Um sonho não é mesmo? É essa para mim a maior sensação que deixa o livro Maresi , da escritora Maria Turtschaninoff. Na obra, acompanhamos Maresi, a noviça que dá nome ao livro e está em fase de descobrir qual será o seu destino na ordem da Abadia Vermelha, sediada na Ilha de Menos. Não sabemos ao certo como foi construída a Abadia, o que fica ao encargo do primeiro livro da série, Naondel . Pelas escrituras, sabemos que as sete irmãs percursoras da Abadia buscaram construir um lugar seguro, abençoado pela força feminina e cheio de conhecimento para acolher mulheres de todos os cantos do mundo criado pela autora. Logo no início, Maresi acolhe Jai, uma noviça, ainda mais iniciante na Abadia, que tem um histórico de grave violência doméstica perpetrada por seu pai. Todas as mulheres da ilha estão fugindo de violênc...

O Babadook

Imagem
  O que as mulheres temem? É difícil escrever sobre o longa metragem “O Babadook” (2014), escrito e dirigido por Jennifer Kent, sem primeiro, tentar escapar dos preconceitos atribuídos a um filme de terror. Isso porque a singularidade e beleza desse filme estão justamente ligadas ao fato de se inserir no gênero terror, mas não se limitar a este e tampouco aos lugares comuns de tal gênero, com destaque para os estereótipos machistas que na maioria das vezes acompanham filmes de terror, como será melhor descrito a seguir. O filme está centrado em um trauma vivenciado pela personagem principal, Amélia (interpretada por Essie Davis), em seus medos e de como ela precisa lidar com desejos que sente – muito deles inadmissíveis pela sociedade de serem pensados por uma mãe. A atmosfera fria e seca da casa onde acontecem os eventos reflete as angústias dessa mulher. Importante destacar que é um terror que se fecha dentro do ambiente doméstico – espaço em que as mulheres vivenciam a mai...

“Jogo de cena”

Imagem
  A representação da dor pelas mulheres     “Jogo de Cena”, documentário brasileiro de 2007, dirigido por Eduardo Coutinho, faz parte do rol daquelas obras que mudam nossas percepções. O filme é excelente por diversas razões, mas, vou destacar o aspecto das narrativas femininas. A simplicidade inicial do longa-metragem, estruturado a partir dos relatos de mulheres que procuraram pelo diretor após um anúncio colocado no jornal, ganha aos poucos uma profundidade que nos envolve em todos os sentidos. Diretor e equipe selecionam algumas histórias que serão contadas pelas próprias mulheres que a vivenciaram, mas também por atrizes. E, assim, drama real e ficcional se embaraçam. A seleção das histórias das mulheres que se voluntariaram não poderia revelar outro fator senão a representação que as mulheres fazem de suas próprias vidas, que, na maioria das vezes, giram em torno de dois temas: maternidade e casamento. Dentre esses dois temas, a devoção aos filhos aparece co...

Desafio férias 2020

Imagem
Durante as minhas férias quarentenada, cumpri o desafio de assistir um filme por dia. Segue a listinha dos filmes em ordem de preferência e com breves comentários rs: Jogo de cena - Direção: Eduardo Coutinho - Perfeito. Comentários especiais no meu próximo post.  A regra do Jogo (1939)   - Direção: Jean Renoir - Forma e conteúdo se combinam para uma crítica visceral.  The babadook - Direção: Jennifer Kent - Melhor filme de terror psicológico que já assisti.  Red   - A fraternidade é vermelha  - Direção: Krzysztof Kieslowski - Só sentir.  A malvada (All about Eve) - Direção: Joseph L. Mankiewicz - Que bom que conheci Bette Davis.  O casamento de Muriel  - Direção:  P.J. Hogan - Trilha sensacional. Comédia inovadora.  Locke  - Direção: Steven Knight - Reflexões sobre masculinidade em uma viagem só.  Vertigo - Um corpo que cai - Direção: Alfred Hitchcock - Suspense meticuloso.  Inver...

Adoráveis mulheres - O universo de potência das irmãs March

Imagem
“Importa-me mais ser amada. Quero ser amada.” A versão adaptada do livro “Adoráveis Mulheres” (Little Woman, escrito por Loisa May Alcott) para o cinema, realizada pela diretora Greta Gerwig, foi a primeira que assisti. Uma palavra que utilizaria para sintetizar a minha experiência com o filme é encantamento. Greta Gerwig consegue criar de forma grandiosa, com uma beleza sublime estampada nos cenários, vestimentas e paisagens, o universo das irmãs March. As quatro irmãs, Jo March (Saoirse Ronan), Amy March (Florence Pugh), Meg March (Emma Watson), Beth March (Eliza Scanlen), com personalidades e expectativas tão distintas, constroem espaços de criação e arte, mesmo em um momento de escassez, durante a Guerra Civil Americana. Desde o início, os olhos se voltam para Jo March. Nos primeiros instantes do filme, Gerwig, nos coloca no lugar de Jo March, que está criando coragem para apresentar um de seus escritos para um jornal. São instantes em que sentimos que temos que criar co...